A “MÁGICA” DA MARATONA
Comecei a correr há mais de dez anos e, sinceramente, não me recordo se, na época, pretendia fazer uma Maratona. Hoje em dia, talvez pelo grande número de pessoas que compartilham seus treinos nas mídias sociais, quem começa a correr se preocupa quase de imediato em completar uma Maratona.
Uma das versões mais aceitas sobre o surgimento da ‘Maratona’ data de 490 a. C, durante uma batalha que fazia parte das chamadas ‘Guerras Médicas’. Dizem que os gregos estavam em combate com os persas, até que o comandante Milcíades pediu ao seu fiel soldado ateniense Fidípedes para retornar à capital grega – que distava aproximadamente 40 km de onde eles estavam – e informar a população sobre a vitória.
Uma das lendas diz que os gregos haviam alertado suas esposas de que, se em 24 horas elas não tivessem notícias de que eles haviam ganhado, elas deveriam matar seus filhos e se suicidar. Isto tudo pela ameaça feita pelos persas de que, caso ganhassem a batalha, marchariam até Atenas, violariam todas as mulheres e sacrificariam seus filhos.
Se isso for verdade, imagina o desespero dos gregos, especialmente de Fidípedes, em chegar lá o mais rápido possível para avisar que a vitória era deles?! O coitadinho deve ter saído que nem um maluco! Ele, sem dúvidas, é o que podemos chamar de corredor raiz. Bom, ele concluiu a distância, deu o recado que eles haviam ganhado a batalha quando chegou em Atenas, mas diz a lenda que faleceu logo após.
Uma versão mais amena conta que o soldado foi apenas pedir reforço, já que estavam em menor número na batalha na Planície de Marathónas – olha aí de onde veio o nome!
Independentemente de qual versão escolhida por você para justificar a origem dessa maravilha que é a Maratona, a distância original dos 42.195 m foi oficializada apenas em 1921. Aumentou-se um pouco a suposta distância percorrida pelo soldado ateniense, sabe por quê?! Porque a família real britânica, durante as Olímpiadas de Londres, em 1908, queria acompanhar o início da prova do jardim do Palácio de Windsor. P-L-E-N-O-S!
Ah, importante dizer que uma prova oficial de Maratona tem essa distância de 42.195 m. As provas menores de 5, 10, 21 km não são consideradas Maratonas, e sim provas de corrida. Até mesmo a São Silvestre, que é mundialmente conhecida, não se trata de uma Maratona, mas de uma prova de corrida de 15 km.
Bom, feita essa breve explicação sobre a origem, a palavra “Maratona” soa como um encantamento na vida dos corredores. O olhinho brilha, o coração palpita e o estômago aperta só de pensar. Já concluí cinco Maratonas e o mais curioso é que, mesmo já tendo corrido essa distância algumas vezes, ou seja, tenha noção de que sou capaz de concluir uma Maratona, é improvável (ou impossível) não ficar minimamente emocionada ou impactada ao pensar em uma. Obs.: juro que escrevo esse texto com um frio na barriga, mesmo não tendo nem previsão de participar de uma Maratona, graças à pandemia!
Chegada da maratona em Foz do Iguaçu, em 2019. Essa foi dureza!
Lá no meu Instagram, como falo bastante de corrida, recebo muitas perguntas dos seguidores sobre qual é o momento certo de correr essa distância. Quanto tempo eles devem esperar ou como podem se sentir prontos para, enfim, se arriscarem na vida “maratonística”.
Na minha humilde opinião, não existe regra. É claro que fisiologicamente falando, o ideal é que alguém que tenha começado a correr – presumindo acompanhamento profissional adequado e boas condições de saúde – espere alguns meses ou até anos para se inscrever em uma.
Considero muito, mas muito importante mesmo, procurar um treinador ou uma assessoria de corrida para traçar um planejamento. Mesmo que existam atletas que corram “por conta” ou sigam planilhas “de revista”, faz toda a diferença quando o acompanhamento é individualizado. E digo isso porque não se trata apenas de correr os 42 km. Mas de corrê-los “bem” e se recuperar rápido.
Me senti “pronta” para correr a minha primeira Maratona depois de dois anos correndo com constância e acompanhamento profissional. Na época, não objetivava performance. Queria apenas completar a distância e me sagrar maratonista. Acredito que quem completa os 42 km já é diferenciado, independentemente do tempo que leve! Inscrever-se numa Maratona, dedicar seu tempo ao treinamento, alimentar-se corretamente, abdicar de alguns compromissos sociais durante o período preparatório diz muito sobre a pessoa. Inclusive, não é coincidência quando vemos altíssimos cargos corporativos serem preenchidos por atletas. Isso mostra dedicação, disciplina, comprometimento, foco, entre outros atributos, que fazem sentido não só ao esporte como ao exercício profissional.
Fiz minha primeira Maratona em 2012, na minha cidade, Curitiba, repeti a mesma prova em 2014, e demorei quatro anos para me arriscar novamente. Me lesionei no meio do caminho e naquela época não pensava em me aventurar em provas em outras cidades ou países.
Em 2018, depois de ter passado por um episódio de saúde bem conturbado – peguei uma bactéria, fiquei internada algum tempo e quase perdi a perna -, minha história com a Maratona mudou e minha mentalidade também. Surgiu um convite da marca Under Armour para representa-los na Maratona de Nova York, uma das maiores e mais importantes do mundo. Graças a Deus me reestabeleci a tempo das lesões (por decorrência da bactéria, tive tendinite, bursite, artrite e fascite, apenas hahaha), consegui fechar o ciclo de preparação em dois meses e embarquei para um sonho. Foi realmente surreal! Uma experiência e superação sem tamanho.
No ano seguinte, foram duas provas de 42 km. Em abril, fiz a de Paris e, em setembro, a de Foz do Iguaçu.
Hoje em dia penso sim em performance, mas demorei muitos anos para chegar onde cheguei. Da minha primeira Maratona, concluída em 04h32min, evoluí para 03h19min, na de Paris, a melhor de todas. Não foi do dia para a noite. Foi com muito treino, dedicação e paciência. E sabe o que mais?! Nunca deixei essa distância, ou a corrida em si, perder o brilho. Vejo muitas pessoas preocupadas com performance ou pace, deixando de lado o que realmente é bonito no esporte: a emoção que está por trás dele!
Saiba, não existe regra para você correr uma Maratona. Não existe treino “certo”, alimentação “certa”, suplementação “certa” ou prova “certa”. Existe individualidade. Existe respeito à distância e existe o frio na barriga que está presente na vida daqueles que, mesmo buscando melhorar de performance, nunca deixaram de lado a essência do que realmente é ser um corredor.
Se puder te dar uma dica é: aproveite cada fase, cada treino, cada prova, cada minuto baixado, cada linha de chegada cruzada. Não importa quanto tempo demore, se você tiver vontade, uma hora a Maratona chegará para você. E não a receba com olhos de cobrança por tempo. Receba-a com o coração de quem ama incansavelmente o que faz!
É isso o que importa!
Galera, convidei a Babi Beluco, modelo e corredora sinistra para um bate-papo exclusivo no meu podcast (Paola Carrijo). Chamo ela carinhosamente de Gisele (Bündchen) Bolt, porque ela é não só é magérrima, loira e linda, como é uma atleta super focada e dedicada. Pasmem, ela completou uma Maratona em 2h57min (meta de vida) e compartilhou com a gente algumas dicas, estratégias e conselhos sobre sua relação com a corrida.
Confere lá no #Episódio 7 do meu Podcast – A “mágica” da Maratona com Babi Beluco: