Se você está lendo esse texto, sem dúvidas é uma pessoa que está acostumada a passar algum tempo do seu dia em blogs, canais de YouTube e redes sociais, certo?! Em pleno ano de 2020 e com tecnologias cada vez mais pulsantes, difícil mesmo é estar longe disso tudo.
Já comentei por aqui a minha saída do funcionalismo público para a criação de conteúdo digital, desde março deste ano (se você ainda não leu esse texto, acessa aqui), e, por essa escolha pessoal, vocês conseguem deduzir que sou uma pessoa defensora desse “meio” e vislumbro nele um grande brightside.
Hoje em dia existem diversos aplicativos que facilitam a nossa vida – nos deslocamos, fazemos compras, pagamos contas, checamos investimentos, ouvimos músicas, entre outras mil coisas, com simples toques na tela do nosso celular -, sem falar na possibilidade de nos comunicarmos de forma gratuita e rápida com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo.
Também em tempos de pandemia, pudemos ver um lado digital extremamente positivo. Com o fechamento dos estabelecimentos comerciais, muitas pessoas mantiveram sua renda por meio da migração para o mundo online. Perfis empresariais no Instagram e Facebook despontaram com força, muitos produtos digitais foram criados, e, inclusive, a forma de trabalhar de diversas pessoas sofreu grandes alterações. Surgiu até mesmo a percepção de que muitas reuniões, por exemplo, são dispensáveis e o assunto pode ser tratado pela simples troca de mensagens, não é verdade?!
Pudemos acompanhar um volume exponencial de “lives” em várias mídias sociais e a propagação de bastante conteúdo de qualidade, até mesmo de forma gratuita. Fiz dois cursos pelo site Coursera.org que gostei bastante, de duas grandes universidades americanas, sem qualquer investimento financeiro.
Porém, como nem tudo é perfeito, as mídias sociais trazem consigo efeitos que impactam negativamente a vida das pessoas. Sabe aquele botão “like” (curtir) do Facebook?! Ou até mesmo o coraçãozinho existente no Instagram para as pessoas apertarem e simbolizarem que gostaram de algum conteúdo?! Então, eles foram criados com a finalidade de espalhar mais positividade e amor pelo mundo. Seus idealizadores não imaginavam, à época, que esses simples gestos poderiam causar ansiedade ou depressão de seus usuários. Não é à toa que o Instagram resolveu omitir a quantidade de ‘likes’ de uma publicação…
Para saber um pouco desse lado negro, por assim dizer, da internet, recomendo o documentário da Netflix chamado “O Dilema das Redes”. Ele trata justamente disso e, pasmem, quem fala sobre esses efeitos destrutivos são grandes nomes que estiveram por trás da criação de aplicativos e suas funcionalidades.
Você já percebeu que muitas vezes gasta mais tempo do que queria navegando online?! Quem nunca abriu o e-mail e, quando se deu conta, estava comprando um tênis que havia pesquisado alguns dias antes?! Ou deitou na cama, pegou o celular, recebeu uma notificação do Instagram e, quando se deu conta, passou horas olhando a vida dos outros?!
Isso tudo é fruto do chamado looping, para o qual você é arremessado para investir seu precioso tempo dentro da plataforma. Os algoritmos, utilizados pela inteligência artificial, estão cada vez mais evoluídos e conseguem nos abordar de uma forma mais eficaz. Eles “sabem” do que nós gostamos fazendo o cruzamento de dados daquilo que buscamos no Google, perfis que seguimos no Instagram, quais tipos de conteúdo curtimos ou consumimos, quais músicas ouvimos, quais produtos compramos online e por aí vai.
Todos nós estamos expostos a essas constantes inovações e, muitas das vezes, de forma silenciosa – e é justamente aí que mora o maior perigo. Na minha visão, não se trata apenas do ato de “usar” as mídias sociais, mas de entender que, ao mesmo passo em que ela pode trazer inovações bastante significativas, pode trazer impactos negativos em âmbitos emocionais, de relacionamento, de convívio social e, até mesmo, políticos.
O primeiro passo, portanto, para evitar que esse sistema seja destrutivo é trazer à nossa consciência esse lado. Muitas pessoas ainda não sabem disso, não percebem que se veem depressivas ou desanimadas depois de muito navegar em perfis do Instagram com corpos, relacionamentos e vidas aparentemente perfeitos, por exemplo. Devemos ter o entendimento de que o exposto na internet, em especial nas redes sociais, é apenas um recorte da vida das pessoas que, na maior parte do tempo, mostram o seu “melhor”. Não devemos usar esse tipo de conteúdo para balizar nossa felicidade, conquistas ou sucesso. E, ao menor sinal de “sentimentos ruins”, devemos deixar imediatamente de acompanhar determinado perfil ou conteúdo.
O segundo passo é priorizar aquilo que importa de verdade. O que mais vale?! Assistir o último vídeo no YouTube de um canal de moda ou aproveitar um momento com a sua família depois do trabalho?! Reveja se o seu tempo está sendo destinado ao importante, ou seja, ao que nutre a sua alma. Cada um sabe o que é importante para si e aqui não cabem julgamentos. Só quero deixar o alerta para que você dê ênfase a eles, para que, num futuro próximo, não olhe para trás e veja que o importante ficou em segundo plano.
Assisti a algumas palestras do evento Social Media Week, que este ano foi integralmente online, e a Leila Guimarães, estrategista digital e uma das palestrantes convidadas, ponderou o cuidado que devemos ter na hora de “curtir, comentar e compartilhar”, porque isso será medido pelo algoritmo e será responsável por atrair, cada vez mais, conteúdos semelhantes.
No mais, ela ressalta que nós somos a parte intangível do sistema. E, por isso, devemos sempre prezar por uma comunicação humanizada, levar conteúdo de valor para às pessoas, visando o desenvolvimento da sociedade como um todo. Afinal, vamos muito além do que se aparenta nas vitrines das redes sociais.
Preste atenção no seu comportamento online. Reflita no quanto ele está influindo no seu bem-estar. Aproveite o que de positivo a tecnologia nos oferece, mas não deixe que ela consuma o que está por dentro de você. Olhe para fora da tela. Olhe para si, para quem está à sua volta em carne e osso. E, isso, querendo ou não, nos foi oportunizado pela quarentena.
Quer saber mais sobre o assunto, ouça no meu podcast Paola Carrijo o Episódio #10 – Os impactos das redes sociais e a autorresponsabilidade, em que bati um papo super legal com a Gabi Karasek, mãe, nutricionista e responsável por ajudar diversas mulheres a transformar suas vidas.